segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vítimas de escalpelamento falam da expectativa das cirurgias reparadoras

Por Edy Wilson/Sesa
 
O anúncio de avaliação médica para a realização de cirurgias reparadoras em pessoas vítimas de escalpelamento, no Amapá, motivou muitas mulheres vítimas desse acidente e que tiveram mutilações total ou parcial do couro cabeludo e da face. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) anuncia para o período de 20 a 22 de outubro deste ano, o mutirão que vai avaliar clinicamente cada paciente e o tipo de cirurgia que será submetido. As cirurgias plásticas estão previstas para dezembro deste ano.

A campanha pela erradicação do escalpelamento por embarcação no Brasil é coordenada pela Defensoria Pública Federal. No Amapá, as ações são coordenadas pela Sesa e pela Secretaria de Estado da Inclusão e Mobilização Social (SIMS). O governo do Estado vai instituir nos próximos dias uma Comissão Estadual pela Erradicação do Escalpelamento por Embarcação, cujas ações executadas pela comissão também serão coordenadas pela Sesa.
A presidente da Associação de Mulheres Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia (AMRVEA), Rosinete Rodrigues Serrão, uma das principais entusiastas do movimento pela erradicação do escalpelamento no Amapá, está otimista com a boa notícia. Para ela, as cirurgias reparadoras para as vítimas de escalpelamento é o maior sonho dessas pessoas.

"Hoje, são dezenas de pessoas, a maioria mulheres que sofrem todo tipo de preconceito e discriminação por causa de nossa estética facial. Somos normais e iguais a qualquer outra pessoa", desabafou Rosinete Rodrigues.

Ela contou que tinha 20 anos de idade quando foi vítima de escalpelamento. O acidente aconteceu em Breves, onde ela lecionava alfabetização para crianças. Rosinete ressaltou que, após o acidente, entrou em depressão e optou por se isolar de todos, inclusive de sua própria família. "Pensei em suicídio por várias vezes, mas nunca tive coragem de enfiar uma faca em mim. Hoje, minha visão quanto o que aconteceu comigo é bem diferente".
Atualmente, Rosinete faz faculdade de pedagogia e sonha com investimentos específicos para a qualificação e capacitação profissional, além do investimento na melhoria das escolaridades das vítimas de escalpelamento.
A jovem Marcilene Mendes Rodrigues, 23 anos, se envolveu no acidente quando tinha 10 anos de idade. Ela citou que logo no início, em toda sua adolescência, sofreu muita discriminação por parte dos colegas da escola. Na época do acidente, Marcilene morava na comunidade Rio Furta Fênix, na Ilha do Pará.

Atualmente, Marcilene ainda enfrenta preconceito na hora de arrumar um emprego. Ela acha que as campanhas educativas devem ser reforçadas, principalmente nas ilhas onde os acidentes com o eixo do motor da embarcação ocorrem com maior frequência.
Para a ex-presidente da Associação de Mulheres Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia, Maria do Socorro Pelaes Damasceno, 29 anos, a iniciativa do governo do Estado foi decisiva para recuperar o tempo perdido referente às cirurgias reparadoras. Ela diz que o governo passado, em oito anos, deixou de credenciar o Hospital Estadual de Clínicas Alberto Lima junto ao Ministério da Saúde (MS) para que as cirurgias plásticas fossem realizadas no Amapá.

"O tempo perdido referente as cirurgias, fez com que o estado do Pará saísse na frente e nós, vítimas de escalpelamento no Amapá, continuamos com nossa autoestima baixa", relatou.
Socorro Damasceno, que presidiu a associação por cinco anos, relembra que o acidente aconteceu há 23 anos, entre as Ilhas Teles e Raza, quando tinha sete anos de idade. Ela diz que, mesmo passado todo esse tempo, ainda sofre preconceito para trabalhar.


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